Burnout: estresse excessivo no trabalho afeta mais as mulheres

Incluída recentemente na lista de doenças ocupacionais no Brasil, síndrome de Burnout é mais intensa entre as mulheres. Entenda por que

Sobrecarga de trabalho foi apontada por 10% das mulheres e 7% dos homens, sendo 43% mais intenso para elas do que para eles (Fotos: Canva)
Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

Vivemos tempos de competição cada vez mais exacerbada por um lugar ao sol no mercado de trabalho. Metas, muitas vezes, inalcançáveis e o temor de perder o emprego impõem às pessoas um permanente estado de alerta, que pode ser prejudicial para a saúde física e mental.

Cefaleia, síndrome do intestino irritável, náusea, gastrite, entre dezenas de outros sintomas podem estar vinculados a este estado e pode desaguar na síndrome de Burnout.

Para quem nunca ouviu esse nome, burnout vem do inglês e é uma união das  palavras “burn”, que quer dizer queimar, e “out”, que significa exterior. Portanto o termo indica uma “queima” de fora para dentro, fatos externos que causam muita pressão no interior, na mente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome é resultante de um estresse crônico, associado ao local de trabalho e que não foi adequadamente administrado. É um transtorno de ordem emocional, consequência de uma carga excessiva e desgastante de trabalho. 

Os mais comuns costumam ser cansaço excessivo, sensação de que não descansou mesmo após dormir, dores de cabeça frequentes, queda no rendimento profissional, ansiedade, depressão, dificuldades de concentração, irritabilidade, falhas de memória, diminuição da produtividade, distúrbios alimentares e gastrointestinais e alterações no sono.

Doença do mundo do trabalho

A síndrome foi descrita pela primeira vez em 1974, pelo médico Herbert Freudenberger. Desde então, a doença tem associação próxima com o mundo de trabalho. O próprio especialista a descreveu como “um estado de esgotamento mental e físico causado pela vida profissional”.

O Burnout costuma prevalecer entre aqueles que atuam em áreas com alto nível de estresse ou enfrentam jornada dupla de trabalho, como os profissionais da saúde, policiais,  professores e jornalistas por exemplo.

Não por acaso, no Brasil, índices de estresse excessivo, assim como a Síndrome de Burnout (também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional) impacta mais mulheres, segundo estudo da FIA Employee Experience (FEEx), realizado com 188 mil pessoas de 419 empresas brasileiras.

Segundo o estudo da FEEx, três em cada dez profissionais sofrem com estas condições. No entanto, ao comparar gêneros, mulheres apresentam 12% a mais dessas cargas mentais do que homens, e 73% mais casos de burnout.

Leia mais

Transtornos psicológicos são mais comuns em mulheres
Burnout parental: como ajudar as mães a lidar com essa síndrome?
Alerta vermelho para a saúde emocional de grávidas e puérperas

Mulheres são as mais afetadas pelo Burnout

De acordo com Lina Nakata, responsável pelo FEEx, integrantes de grupos minorizados sentem sofrem mais com a exclusão, porque têm mais dificuldade de serem quem realmente são.  “A tendência é se desgastarem nas relações com as empresas e com os colegas de trabalho, aumentando os níveis de pressão”, explica.

Os índices aumentam, também, segundo o estudo, porque as mulheres, em comparação aos homens, principalmente, costumam ter mais autoconhecimento sobre à saúde em geral e percebem que estão enfrentando problemas.

Ao ouvir das pessoas os motivos de tanto estresse, a sobrecarga de trabalho foi apontada por 10% das mulheres e 7% dos homens, sendo 43% mais intenso para elas do que para eles.

Não é difícil entender os  motivos que fazem com que as mulheres sofram mais de síndrome de burnout. O primeiro deles, e o que desencadeia todos os outros, é o machismo estrutural, que leva à desvalorização do trabalho feminino, principalmente quando falamos nas mulheres que também são mães.

Leia ainda

6 dicas para alcançar (e manter) o equilíbrio emocional no trabalho?
8 entre 10 mulheres já sofreram assédio no trabalho
Mãe multitarefas: um alerta à sobrecarga de trabalho

 

Mulheres são mais sobrecarregadas e ganham menos

Mulheres costumam ter uma jornada  extensa de trabalho, e ao finalizarem suas atividades nas empresas, ainda precisam lidar com responsabilidades da casa, dos filhos e da família, pois muitas vezes os homens não o fazem. Isso faz com que elas fiquem mais cansadas e tenham pouca qualidade de vida e de sono, resultando em mais estresse. 

Um outro fator é a desvalorização das mulheres no mercado de trabalho. Elas têm menos oportunidades de crescimento, salários mais baixos que os homens e são pouco estimuladas, já que são vistas como “inferiores”. Há, ainda, os inúmeros casos nos quais mulheres que acabaram de ter bebê são demitidas após o período de licença maternidade, pois o empregador vislumbra a necessidade de faltas ao trabalho para cuidar do filho (preocupação essa que quase nunca recai sobre o homem).

Sem falar na pressão interna e da sociedade sobre as mulheres, que precisam ser boas em todas as atividades que realizam para serem valorizadas. Mães, por exemplo, se cobram o tempo inteiro para serem as heroínas dos seus filhos, precisam dar conta de si, do marido e do trabalho.

Doença ocupacional, com direitos garantidos

Até pouco tempo, os sintomas desenvolvidos pelo excesso de trabalho ou pressão não eram considerados doença e suas consequências foram responsáveis por milhares de demissões de postos de trabalho.

Desde janeiro de 2022, a síndrome de Burnout passou a ser vista como uma doença ocupacional, e mais recentemente, foi incluída na lista de doenças do Ministério do Trabalho. Portanto, trabalhadores que venham a desenvolvê-la estão assegurados pelos direitos trabalhistas.

A despeito de a lei proteger os profissionais que adoecem por causa do trabalho, o tema ainda é tratado como tabu pelas próprias vítimas, que relutam e demoram a pedir ajuda, por vergonha, medo de exclusão e de perderem o emprego, agravando o adoecimento.

Para alguns empregadores o tema é tratado muitas vezes de forma negligente porque seu objetivo é apenas o lucro e, para isso, precisam manter em suas empresas equipes cada vez mais produtivas, submetidas a rotinas exaustivas, com metas inalcançáveis, em ambientes competitivos e tóxicos.

É importante citar também, os casos, infelizmente ainda comuns, de assédio moral e sexual, presentes no mundo do trabalho em várias esferas e que ampliam as possibilidades de desenvolvimento de síndromes e outras doenças.

Leia também

Síndrome de Burnout agora é doença ocupacional, diz OMS
Covid-19 e Burnout entram na lista de doenças do trabalho no Brasil
Como o Burnout pode derrubar seu desempenho e afetar sua felicidade

Precarização e cidadania

A lógica capitalista e a ganância que incentiva e perpetua produzem relações fluidas, superficiais, pouca empatia e comportamentos e atitudes individualistas.

A precarização das relações de trabalho e o fantasma do desemprego, sempre presente especialmente em países em desenvolvimento, com todas as mazelas dessa condição (acesso não universalizado à educação, à saúde, à tecnologia, entre outros), facilitam ainda mais a submissão das pessoas a “contratos” onde não há garantias nem limites, levando à exaustão e ao adoecimento.

A solução para criar ambientes onde as leis trabalhistas sejam seguidas à risca é o mesmo para outras esferas da nossa sociedade: a educação, que possibilita a cidadania, a consciência sobre  deveres e direitos e ações que os garantam.

Enquanto tivermos o abismo social que predomina em nosso país, dificilmente teremos relações saudáveis de trabalho, onde empresas e empregados ganhem, sem que haja necessidade de exploração.

A despeito de termos avançado em muitos aspectos, sabemos que temos um longo processo pela frente e é preciso continuar lutando para que empresas que utilizam práticas que podem adoecer os trabalhadores  sejam punidas por suas ações e, por outro lado, incentivar, por meio de aquisição de produtos e serviços, empresas alinhadas com as boas práticas corporativas.

Aspectos da dimensão humana

O trabalho é uma importante dimensão da vida humana. Além de garantir a sobrevivência, em virtude do aspecto financeiro, está ligado ao pertencimento, à produtividade, à dignidade das pessoas.

Não por acaso, o luto da perda de um emprego é considerado um dos mais difíceis de superar, abaixo da perda de um filho e de um relacionamento longo. Muitos de nós passamos mais tempo trabalhando do que com nossas famílias, o que amplia a sensação de importância dessa atividade em nossas vidas.

Não dá para negar essa importância, mas é preciso que estejamos cientes de outros aspectos igualmente necessários para uma vida saudável, como uma rede social ampla, relacionamentos afetivos, atividades físicas, atividades culturais e hobbies, lazer e, psicoterapia, para ampliar o autoconhecimento e fortalecer aspectos mentais e ligados a crenças cristalizadas.

Leia mais

Demissão humanizada: o que fazer para atenuar o ‘luto demissional’
Etarismo e Burnout afetam saúde mental de pessoas 60+
Burnout ou Boreout? Conheça as síndromes ligadas ao trabalho

Atenção aos sinais

Se colegas e familiares comentarem que algo mudou ou que você está se irritando mais facilmente ou você sinta cansaço excessivo e desinteresse por atividades que antes te davam alegria e prazer é preciso acender a luz amarela. Esses podem ser os primeiros sinais da síndrome de burnout.

Quanto mais tempo você demorar para pedir ajuda profissional, mais difícil será se recuperar dos sintomas que poderão afetar fortemente a sua qualidade de vida e sua saúde física e mental!

Leia mais artigos na seção ‘Palavra de Especialista’

 

 

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!

You may like

In the news
Leia Mais
× Fale com o ViDA!